Governo Trump proíbe Harvard de matricular novos estudantes estrangeiros
- Mega Fato
- 23 de mai.
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A decisão do presidente Donald Trump de proibir a Universidade Harvard de matricular estudantes estrangeiros a partir do ano letivo de 2025-2026 abalou o cenário acadêmico global. Anunciada pelo Departamento de Segurança Interna dos Estados Unidos, a medida revoga a certificação do Programa de Estudantes e Visitantes de Intercâmbio (SEVP), essencial para que a instituição receba alunos com vistos F ou J. Harvard, que há décadas atrai talentos de mais de 140 países, enfrenta agora um dos maiores desafios de sua história. A determinação afeta diretamente cerca de 27% de seus alunos, que são internacionais, e gera incertezas sobre o futuro de programas acadêmicos e esportivos.
O governo justificou a ação como resposta ao que classifica como descumprimento de normas federais por parte da universidade. Segundo o Departamento de Segurança Interna, Harvard teria promovido um ambiente acadêmico que tolera “condutas pró-terrorismo” e manteria laços inadequados com entidades como o Partido Comunista Chinês. A secretária de Segurança Interna, Kristi Noem, enfatizou que a possibilidade de receber estudantes estrangeiros é um privilégio condicional, não um direito garantido. A universidade, por sua vez, reagiu com veemência, classificando a medida como uma tentativa de interferir em sua autonomia acadêmica.
A decisão ocorre em meio a uma escalada de tensões entre o governo Trump e instituições de ensino superior americanas. Nos últimos meses, Harvard enfrentou pressões para alterar políticas de admissão, contratação e ensino, incluindo a eliminação de programas de diversidade, equidade e inclusão (DEI). A recusa da universidade em ceder a essas demandas resultou em retaliações, como o congelamento de mais de 2 bilhões de dólares em verbas federais. Além disso, o governo ameaçou revogar o status de isenção tributária da instituição, uma medida considerada extrema por especialistas.
As consequências da proibição são amplas e afetam diversos setores da universidade. Entre os pontos mais críticos estão:
Impacto financeiro: Estudantes internacionais representam uma fonte significativa de receita, com mensalidades que chegam a 60 mil dólares anuais por aluno.
Programas acadêmicos: Áreas como ciências, tecnologia e negócios, que dependem de talentos globais, podem sofrer com a ausência de diversidade.
Esportes universitários: Aproximadamente 21% dos atletas da Harvard Crimson são estrangeiros, especialmente em esportes como remo e golfe.
Reputação global: A medida pode afastar futuros candidatos internacionais, reduzindo a influência de Harvard no cenário educacional mundial.
Origem do conflitoO embate entre Harvard e o governo Trump começou a se intensificar no final de 2024, quando o presidente anunciou uma revisão de contratos federais com universidades americanas. A administração exigiu mudanças em políticas de admissão e ensino, alegando que instituições como Harvard promoviam ideologias contrárias aos interesses nacionais. Em abril de 2025, Kristi Noem enviou uma carta à universidade, solicitando registros detalhados sobre atividades de estudantes estrangeiros, incluindo supostas condutas “ilegais e violentas”. A universidade tinha até 30 de abril para cumprir as exigências, sob pena de perder sua certificação SEVP.
Harvard respondeu publicamente, afirmando que as demandas representavam uma tentativa de controlar suas “condições intelectuais”. O presidente da instituição, Alan Garber, declarou que a universidade não abriria mão de sua independência ou de seus direitos constitucionais. A resistência de Harvard desencadeou uma série de medidas punitivas. Além da proibição de matrículas de estrangeiros, o governo congelou 2,3 bilhões de dólares em contratos e bolsas de pesquisa, impactando diretamente laboratórios e projetos científicos.
A secretária Noem justificou as ações, apontando que Harvard, com seu endowment de 53,2 bilhões de dólares, teria recursos suficientes para “financiar seu próprio caos”. Ela também acusou a instituição de criar um ambiente hostil para estudantes judeus, citando protestos pró-Palestina como evidência de falhas na gestão universitária. Harvard, por sua vez, destacou que implementou medidas robustas contra o antissemitismo, incluindo sanções disciplinares e programas educacionais, mas rejeitou ceder à pressão governamental.
Reações da comunidade acadêmicaA comunidade de Harvard reagiu com protestos e manifestações de apoio à universidade. Em 17 de abril de 2025, estudantes e professores se reuniram no Harvard Yard para condenar as ações do governo. Cartazes com frases como “Defenda a liberdade acadêmica” e “Harvard resiste” marcaram o evento. Um professor da Kennedy School of Government, Archon Fung, discursou sobre a importância de proteger a autonomia das universidades diante de pressões políticas.
Estudantes internacionais expressaram preocupação com seu futuro. Karl Molden, um aluno do segundo ano vindo de Viena, destacou a incerteza gerada pela decisão. Ele teme que a administração Trump continue buscando maneiras de dificultar a permanência de estrangeiros nos Estados Unidos. Já Taybah Crorie, estudante da Inglaterra, apontou que muitos colegas que participaram de protestos pró-Palestina temem ser alvos de deportação. A universidade prometeu apoio jurídico e acadêmico aos alunos afetados, mas reconheceu limitações diante das medidas federais.
Outras universidades, como MIT e Columbia, manifestaram solidariedade a Harvard. O MIT emitiu um comunicado condenando o que classificou como “interferência governamental sem precedentes” nas operações acadêmicas. Columbia, que enfrentou sanções semelhantes, cedeu parcialmente às exigências do governo para preservar seus fundos federais. A divisão entre as instituições reflete o dilema enfrentado por universidades americanas: resistir às pressões e enfrentar consequências financeiras ou ceder para manter operações.
Impacto financeiro imediatoA proibição de matrículas de estudantes internacionais ameaça uma das principais fontes de receita de Harvard. No ano letivo de 2023-2024, mais de 10 mil alunos estrangeiros contribuíram com cerca de 600 milhões de dólares em mensalidades. Esses recursos ajudam a financiar bolsas de estudo, pesquisas e infraestrutura. A perda dessa receita pode forçar a universidade a reduzir programas ou aumentar as mensalidades para estudantes americanos, o que seria impopular.
Além disso, o congelamento de verbas federais compromete projetos de longo prazo. Por exemplo, laboratórios de pesquisa em Harvard Medical School já anunciaram possíveis cortes de pessoal e interrupções em experimentos com animais devido à falta de financiamento. Um professor da instituição, David Walt, alertou que a suspensão de recursos pode atrasar avanços em áreas como biotecnologia e inteligência artificial.
A ameaça de revogação do status de isenção tributária, embora ainda em discussão, adiciona mais pressão. Especialistas em direito tributário, como Julian Fray, da Northeastern University, afirmam que tal medida seria “extremamente rara” e exigiria justificativas robustas, como violações graves de políticas públicas. O precedente mais notável ocorreu em 1983, quando a Bob Jones University perdeu sua isenção por práticas discriminatórias.
Consequências para os estudantesOs estudantes internacionais já matriculados em Harvard enfrentam um prazo para encontrar alternativas. O Departamento de Segurança Interna determinou que esses alunos devem se transferir para outras instituições certificadas pelo SEVP ou perderão seu status legal nos Estados Unidos. A universidade criou uma força-tarefa para orientar os alunos, oferecendo assistência na busca por vagas em outras escolas e suporte com documentação.
A situação é particularmente delicada para alunos de países visados por políticas imigratórias restritivas. Estudantes de nações como Irã, Síria e Venezuela, que já enfrentam barreiras em vistos, podem ter dificuldades para encontrar instituições dispostas a aceitá-los. Além disso, a transferência pode interromper projetos de pesquisa ou comprometer a continuidade de bolsas de estudo.
Desafios logísticos: Transferências exigem a validação de créditos acadêmicos, o que pode prolongar o tempo de conclusão dos cursos.
Custos adicionais: Algumas universidades cobram taxas de matrícula mais altas para estudantes transferidos.
Impacto emocional: A incerteza sobre o futuro acadêmico tem gerado ansiedade entre os alunos.
Perda de oportunidades: Atletas internacionais, como os da equipe de remo, podem não encontrar programas esportivos equivalentes em outras escolas.
Resposta jurídica de HarvardHarvard anunciou que pretende contestar a decisão na justiça. Advogados da universidade argumentam que a revogação da certificação SEVP é arbitrária e viola princípios constitucionais, como a liberdade acadêmica. A instituição já contratou uma equipe de especialistas em direito imigratório e administrativo para preparar ações judiciais. Um dos argumentos centrais é que o governo não apresentou evidências concretas de que estudantes estrangeiros em Harvard representem uma ameaça à segurança nacional.
Em abril de 2025, um grupo de estudantes internacionais entrou com uma ação em um tribunal federal em Boston, questionando a legalidade das medidas do governo. Durante uma audiência, o Departamento de Justiça afirmou que a administração Trump planeja criar um novo sistema para revisar e encerrar registros de estudantes estrangeiros. A decisão de restaurar temporariamente o status legal de alguns alunos, anunciada em 25 de abril, foi vista como uma tentativa de mitigar críticas, mas não resolveu o impasse.
A batalha jurídica pode se prolongar por meses, com possíveis apelações até a Suprema Corte. Enquanto isso, Harvard enfrenta o desafio de manter sua reputação como um polo global de ensino, mesmo sob pressão governamental. A universidade reforçou sua comunicação com alunos e famílias, garantindo que está explorando todas as opções para reverter a proibição.
Repercussão internacionalA decisão de Trump gerou reações em diversos países. Governos de nações como Canadá, Reino Unido e Austrália, que competem com os Estados Unidos pelo mercado de estudantes internacionais, já começaram a promover suas universidades como alternativas seguras. A Universidade de Toronto, por exemplo, anunciou um programa de bolsas para alunos afetados pela proibição em Harvard.
Organizações internacionais, como a ONU e a Anistia Internacional, criticaram a medida, alegando que ela prejudica o direito à educação e reforça políticas xenofóbicas. Em um comunicado, a Anistia destacou que a proibição pode desencorajar jovens de buscar ensino superior nos Estados Unidos, reduzindo a diversidade cultural no país.
Países como a China, que enviam milhares de estudantes para Harvard anualmente, expressaram preocupação. Um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores chinês afirmou que a medida reflete uma “mentalidade de Guerra Fria” e pode prejudicar as relações bilaterais. Estudantes chineses, que representam cerca de 30% dos alunos internacionais em Harvard, são particularmente afetados.
Mudanças no cenário esportivoO impacto da proibição também atinge o departamento de esportes de Harvard, conhecido como Harvard Crimson. Com 42 equipes de primeira divisão, a universidade depende de atletas internacionais para manter sua competitividade. Dados de 2025 mostram que 196 dos 919 atletas listados nas equipes têm origem fora dos Estados Unidos. Esportes como remo masculino, golfe feminino e futebol feminino têm mais de 50% de seus membros vindos do exterior.
A ausência de novos atletas internacionais pode enfraquecer essas equipes. Treinadores já começaram a buscar talentos domésticos, mas reconhecem que a diversidade global é um diferencial. Um técnico da equipe de remo destacou que atletas de países como Austrália e Reino Unido trazem técnicas únicas que elevam o desempenho do time. A universidade planeja oferecer suporte aos atletas afetados, mas as opções são limitadas diante da revogação do SEVP.
Apoio de outras instituiçõesUniversidades americanas formaram uma coalizão informal para apoiar Harvard. Instituições como Yale, Princeton e Stanford emitiram comunicados conjuntos, pedindo que o governo reveja a decisão. Algumas ofereceram vagas temporárias para estudantes internacionais de Harvard, embora a capacidade de absorção seja limitada.
A Associação Americana de Universidades (AAU) também se posicionou. Em um relatório, a entidade alertou que medidas como a proibição em Harvard podem reduzir a atratividade dos Estados Unidos como destino educacional. No ano letivo de 2023-2024, mais de 1,1 milhão de estudantes internacionais frequentaram universidades americanas, gerando uma receita de 40 bilhões de dólares. A AAU estima que a proibição pode redirecionar parte desse fluxo para outros países.
Canadá: Universidades como McGill e UBC lançaram campanhas para atrair alunos afetados.
Reino Unido: Oxford e Cambridge anunciaram processos simplificados para transferências.
Austrália: A Universidade de Sydney ofereceu isenção de taxas para estudantes de Harvard.
Europa: Países como Alemanha e Holanda promovem programas em inglês para captar talentos.
Pressão sobre o endowmentO endowment de Harvard, avaliado em 53,2 bilhões de dólares, é um dos maiores do mundo. Embora a universidade tenha recursos para enfrentar perdas temporárias, a proibição de estudantes internacionais e o congelamento de verbas federais podem forçar ajustes. Administradores já discutem a possibilidade de redirecionar fundos para cobrir despesas operacionais, o que poderia reduzir investimentos em pesquisa e infraestrutura.
A dependência de mensalidades de estudantes internacionais é um ponto vulnerável. Em 2023, esses alunos representaram 27% da receita total de matrículas. A universidade pode buscar parcerias com o setor privado para compensar perdas, mas essas negociações levam tempo. Enquanto isso, a pressão financeira aumenta, especialmente para departamentos que dependem de bolsas federais.
Perspectiva dos alunos afetadosEstudantes internacionais relatam um misto de frustração e determinação. Roberto Carmona, um calouro de origem cubana, afirmou que a resistência de Harvard ao governo o motivou a escolher a universidade. Ele vê a instituição como um símbolo de independência diante de pressões políticas. Já Maurits Acosta, um estudante de Miami, destacou que a disputa não diminui o prestígio de Harvard entre os alunos.
No entanto, a incerteza pesa. Alunos como Zaria Ferguson, da Jamaica, pedem mais clareza da administração sobre como as políticas imigratórias afetarão a comunidade internacional. A Harvard International Office tem realizado reuniões com grupos de estudantes, mas muitos ainda aguardam orientações detalhadas. A universidade reforçou que está comprometida em proteger seus alunos, mas reconhece os limites de sua influência sobre decisões federais.
Novas estratégias de HarvardDiante da proibição, Harvard começou a explorar alternativas para manter sua comunidade internacional. Uma das estratégias é estabelecer parcerias com universidades estrangeiras, permitindo que alunos afetados continuem seus estudos em programas afiliados. A universidade também considera expandir cursos online para estudantes que não possam permanecer nos Estados Unidos.
Outra medida é intensificar o lobbying em Washington. Harvard contratou consultores políticos para negociar com membros do Congresso e buscar apoio bipartidário. A universidade aposta que a pressão de outras instituições e do setor privado pode influenciar uma revisão da decisão. Enquanto isso, a administração mantém uma postura pública de resistência, reforçando seu compromisso com a diversidade e a liberdade acadêmica.
Mudanças no recrutamentoA proibição força Harvard a repensar suas estratégias de recrutamento. Tradicionalmente, a universidade atrai talentos de todo o mundo com feiras educacionais e programas de bolsas. Agora, o foco pode mudar para estudantes domésticos, o que altera a composição demográfica do campus. Departamentos acadêmicos já discutem como manter a diversidade sem depender de alunos internacionais.
Programas de intercâmbio também estão em risco. Harvard mantém acordos com mais de 100 instituições globais, mas a revogação do SEVP limita a participação de alunos estrangeiros. A universidade avalia a criação de hubs regionais em outros países, onde estudantes possam cursar disciplinas sem precisar de vistos americanos.
Reação do mercado educacionalO mercado global de ensino superior já sente os efeitos da decisão. Consultorias educacionais relatam um aumento na procura por universidades fora dos Estados Unidos. Países como Canadá e Reino Unido registraram um crescimento de 10% nas inscrições de estudantes internacionais desde o anúncio da proibição. A Austrália também se beneficia, com suas universidades promovendo processos de admissão rápidos e vistos flexíveis.
Empresas que oferecem serviços de orientação para estudantes internacionais ajustaram suas estratégias. Muitas agora destacam destinos alternativos, como Alemanha e Irlanda, que oferecem cursos em inglês a custos mais baixos. A decisão de Trump pode acelerar uma redistribuição do fluxo de estudantes globais, com impactos de longo prazo para a economia americana.
Futuro dos vistos estudantisA proibição em Harvard é parte de uma política mais ampla da administração Trump para revisar o sistema de vistos estudantis. Desde janeiro de 2025, o governo revogou mais de 1.500 vistos de estudantes em todo o país, muitos por supostas violações menores, como participação em protestos. O Departamento de Segurança Interna planeja implementar um sistema automatizado para monitorar atividades de alunos estrangeiros, o que preocupa defensores da privacidade.
Organizações de direitos humanos alertam que essas medidas podem violar tratados internacionais sobre educação. A UNESCO, por exemplo, defende que o acesso ao ensino superior é um direito universal. A administração Trump, no entanto, mantém que a segurança nacional é a prioridade, justificando ações como a proibição em Harvard.
Apoio comunitário em HarvardA comunidade de Harvard continua a se mobilizar. Em maio de 2025, dezenas de alunos realizaram um novo protesto, exigindo que a universidade mantenha sua postura de resistência. Líderes estudantis, como Gerdén, afirmaram que a luta é uma “maratona” e que confiam na estratégia da administração.
Grupos de ex-alunos também entraram na disputa, com doações direcionadas para apoiar estudantes internacionais. A Harvard Alumni Association lançou uma campanha para arrecadar fundos emergenciais, visando cobrir custos de transferência e assistência jurídica. A solidariedade interna fortalece a posição da universidade, mas o desfecho da batalha com o governo permanece incerto.







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